(Ou um debate sobre falsas premissas)
Por Heribaldo Maia
A história do marxismo é a história de assimilações
O pensamento marxiano, ligado diretamente aos textos de Marx e Engels, já nasceu de um longo e conflituoso processo de assimilações teóricas que, tomadas isoladamente, eram, em vários pontos, pouco compatíveis e até antagônicas. Se levarmos em consideração a proposta de Lenin, temos três eixos fundamentais que constituem o pensamento de Marx e Engels e, consequentemente, o marxismo: 1) a economia política clássica (o liberalismo), 2) a dialética de Hegel (uma metafísica idealista) e o 3) socialismo utópico francês (cuja divergência com o pensamento marxiano fica explícito no texto de Engels, Do socialismo utópico ao socialismo científico).
É rápido perceber, por óbvio, que o que chamamos de pensamento marxiano é fruto de um modelo básico tri-teórico (que também recebe outras influências), que submetidos a um trato crítico (falaremos disso mais na frente), produz uma tensão criativa entre campos teóricos bastante antagônicos. Por exemplo, o socialismo utópico é nitidamente oposto aos pressupostos teóricos da economia política liberal – inclusive nas reverberações políticas de ambos projetos. Assim como a dialética idealista de Hegel é, em determinados pontos (que não cabem abordar agora), antagônica ao materialismo (vulgar, num primeiro momento) que Marx havia assimilado dos debates com os hegelianos de esquerda que criticavam Hegel via Feuerbach. Da mesma forma Marx e Engels assimilaram de maneira genuína as formulações do Socialismo Utópico, ainda que houvessem divergência com o caráter pouco concreto do projeto político utópico, que reverberava uma análise sócio-política também utópica.
Ou seja, as três fontes que Lenin nos apresenta e que sustentam o Materialismo Histórico-Dialético (MHD) são, em si mesmas, antagônicas em vários pontos, não formando por si só um uno, um equilíbrio estável, mas uma tensão criativa amarrada (de modo instável) pelo trabalho crítico de Marx. Por isso mesmo que o trabalho marxiano não foi (repetindo) o de encontrar uma harmonia perfeita ou um equilíbrio total nesse sistema teórico que originou o MHD, mas perceber como tais ferramentais teóricos, cada qual com seus limites intransponíveis, nos revelou algo de verdade, ainda que velada sob o véu da ideologia, sobre o mundo e abriu questões fundamentais que possibilitaram Marx e Engels acessarem o movimento concreto da situação concreta, para usar uma linguagem de Lukács. Tanto que, afirma Lenin (que não há dúvidas se tratar de um autêntico marxista): “o gênio de Marx reside precisamente em ter dado respostas às questões que o pensamento avançado da humanidade tinha já colocado. A sua doutrina surgiu como a continuação direta e imediata das doutrinas dos representantes mais eminentes da filosofia, da economia política e do socialismo”[1]. Veja que Lenin não diz que Marx transformou as questões do liberalismo, do hegelianismo ou do socialismo utópico em questões marxianas, mas que tomando essas questões em seus termos, respondeu em outros, recolocando tais questões em outro grau, dando, portanto, “respostas às questões que o pensamento avançado da humanidade tinha já colocado”.
O marxismo, a corrente de pensamento que se desdobra a partir dos textos de Marx e Engels, a seu modo (assim como fizeram seus fundadores) e a depender de contextos nacionais, culturais, teóricos e conjunturais, se caracterizou por dialogar – assimilando criticamente – o estado da arte da produção cultural e teórica de seu tempo, afim de dar conta de respostas locais e universais as transformações do capitalismo e suas particularidades nacionais. E isso ocorre não por capricho intelectual ou motivos de preferências teóricas excêntricas, mas por um pressuposto metodológico do Materialismo Histórico-Dialético que é fundamental: se a totalidade que determina os processos constituintes da sociedade burguesa é histórica (aqui encontramos tanto o conceito hegeliano de processo, como o cerne da crítica de Marx aos liberais – sendo um exemplo de como há uma tensão criativa entre conceitos – não-marxistas – para produzir respostas a questões em outro patamar de complexidade), ainda que haja uma essência do que é o capitalismo, essa essência é fundamentalmente histórica e, portanto, processual, mutável – assim como também há mudanças, muito mais nítidas, na aparência do capitalismo, mas que são tão importantes quanto mudanças essenciais. Essa essência histórica produz uma grande dificuldade que nos faz revisar sempre nossas questões mais elementares e, como consequência, nossas respostas. Quem capturou bem esse problema foram as filósofas marxistas, Nancy Fraser e Rahel Jaeggi, quando dizem: que “o capitalismo é intrinsecamente histórico. Longe de estarem dadas, suas propriedades emergem do tempo. Se estiver correto, temos de proceder com cautela, tomando cada definição proposta com um pé atrás e como sujeita a modificação no interior da trajetória em desdobramento do capitalismo”[2].
Considerando a processualidade histórica intrínseca do objeto de análise do marxismo, além do triste fato de que Marx e Engels, por não serem imortais, morreram no final do século XIX (apesar do desejo de que ambos estivessem vivos, seria um perigo dois idosos com mais de 250 anos andando por aí. Já imaginou Marx, no auge dos seus mais de dois séculos de vida, no Twitter?), o avançar da história foi nos impondo mudanças, que nos trouxeram novas questões, que pediam novas análises e, assim, produzir novos prognósticos. Por exemplo, é o que fez Lenin quando, ao atualizar o marxismo para dar conta de seu tempo histórico, produziu uma análise do que ele chamou de “fase imperialista do capitalismo”[3].
Do mesmo modo como o tempo de Lenin demandou novas formulações teóricas para novos problemas, que resultaram numa superação crítica do próprio legado de Marx e Engels, é óbvio que, passados 100 anos da morte de Lenin, o capitalismo contemporâneo, chamarei sob o risco de reducionismo de fase neoliberal, possui diferenças explícitas com o mesmo capitalismo dos tempos de Marx, Engels e Lenin. De tal modo que, ainda que o capitalismo guarde pressupostos essenciais de sua gênese, que foi analisada por Marx e Engels no séc. XIX, o movimento constante de permanências, mas também de transformações, nos impuseram novos problemas, que demandam novas questões, novas análises e, enfim, a busca de novos prognósticos. E toda essa espiral da história (lembrando a influência de Giambatista Vico no pensamento de Marx), que se repete compulsivamente, nós demanda novos arranjos teóricos, como fez Lenin em seu tempo. E isso o marxismo fez sempre e sempre faz – sempre!
Vigotsky, para pensar uma psicologia científica e marxista, lançou mão do diálogo com Espinosa (um metafísico); Lukács guardou em sua obra, em especialmente em sua fase de juventude e primeiros momentos como marxista, a influência de seu mestre Max Weber (um neokantiano); Gramsci embasou parte de sua teoria política através de interlocução com Maquiavel; Michael Löwy assimila o romantismo alemão (que possui forte influência entre autores conservadores e até reacionários); Benjamin faz uma inusitada mistura de Marx com as leituras exegéticas da Torah e a Cabala judaica; Adorno produziu uma crítica da razão via Marx e Nietzsche (além de Freud, claro); e, por fim, para não enchermos desnecessariamente de exemplos, Marcuse, Frantz Fanon e José Carlos Mariátegui usam, cada um ao seu modo, marxismo e psicanálise.
Marxismo e Psicanálise é uma heresia?
Aqui chegamos ao ponto que considero fundamental em relação ao debate sobre a complexa e rica relação entre Marxismo X Psicanálise. Considerando a história intelectual de Marx, Engels e do marxismo, há na tradição marxista um eixo metodológico, ou um campo de gravitação que repele e atrai a produção cultural e teórica de seu tempo (com seus conceitos e questões), assimilando, criticando e elevando, como Lenin nos disse, os debates a outro nível.
Cabe aqui um parêntese. [Superação (que, com mais rigor, foi traduzido como suprassunção), conceito de Hegel e que Marx e os marxistas usam para descrever, dentre outras coisas, esse movimento de assimilação crítica de uma produção teórica não marxista, não significa tornar algo a imagem e semelhança das proposições de Marx ou do que quer que consideremos marxista, como quem busca moldar a força um material rígido como ferro, pois isso negaria o que há de original numa teoria que não seja marxista, rejeitando suas questões (e vimos com Lenin que as questões são preservadas). Elevar significa retirar algo de um nível e recoloca-las, mantendo sua essência, em outro patamar de problematização e complexificação de respostas possíveis. Inclusive o termo em alemão, aufheben, um verbo, significa exatamente isso, retirar algo de um nível e colocar, esse mesmo algo, em outro, fazendo com que, ainda sendo ele, o seja em outro lugar de determinações]. Fim do parêntese.
Se assimilações são, portanto, e para quem não nega a concretude da história intelectual do marxismo, parte do desenvolvimento teórico do marxismo e também dos textos marxianos, por que só a assimilação feita por marxistas com a psicanálise é questionada em sua base, em si mesma, questionando assim a legitimidade da assimilação (coisa que não acontece com outros campos do marxismo)?
Alguns podem responder que a psicanálise é idealista, burguesa etc. Bem, Espinosa[4], até onde se tem notícias, não era marxista, era um metafísico cujo ideia de Deus era central em sua teoria (ou será que usar bem o MHD seja apenas tirar o que não quer e usar o que acha que deve? E, assim, no caso de Espinosa basta tirar seu Deus e ficar com o resto. Resolve?); Hegel, idealista (ainda que haja problematizações quanto a essa adjetivação[5]); Ricardo (que elabora a teoria do valor trabalho, central para Marx e todo o marxismo), era um liberal; e assim por diante.
Para termos um exemplo, vamos então voltar ao próprio Vigotsky, o mesmo fala: “De igual modo o inconsciente se torna objeto de estudo do psicólogo não por si mesmo, mas indiretamente, através da análise dos vestígios que deixa no nosso psiquismo. Não existe um muro intransitável entre a consciência e o inconsciente. Os processos que começam no inconsciente emergem frequentemente à consciência e, ao contrário, deslocamos para a esfera do inconsciente numerosos fenômenos conscientes. Existe uma relação dinâmica, viva, permanente, que não se interrompe nem por um instante, entre ambas as esferas de nossa vida psíquica. O inconsciente influencia os nossos atos, manifesta-se no nosso comportamento, e por esses vestígios e manifestações aprendemos a identificar o inconsciente e as leis que o regem”[6]. Perceba que o inconsciente, criação conceitual de Freud, que fundou a psicanálise e não o MHD, é assimilado, mutatis mutandis, por Vigotsky de maneira explícita e inquestionável, inclusive carregando consigo suas reverberações, quando afirma que “O inconsciente influencia os nossos atos, manifesta-se no nosso comportamento, e por esses vestígios”, como Freud também pensava – guardada as diferenciações, por óbvio. Assim como vemos essa assimilação quando Vigotsky nos afirma que, ”Os processos que começam no inconsciente emergem frequentemente à consciência e, ao contrário, deslocamos para a esfera do inconsciente numerosos fenômenos conscientes”, muito próximo do que Freud[7] conceitua por repressão[8].
É claro que a forma de assimilação da psicanálise feita por Vigotsky e por freudo-marxistas[9] são distintas (e aqui há um vasto campo legítimo de polêmica mútua), mas isso não diminui ou desqualifica nem um campo e nem o outro, mesmo que qualquer dos campos seja mais ou menos próximo da psicanálise. É também claro que Vigotsky considerava que haveriam problemas metodológicos nessa assimilação, afinal toda assimilação produz soluções e problemas metodológicos (é um princípio lógico-filosófico basilar), ainda que para Vigotsky, o conceito de inconsciente seja um dos pressupostos fundamentais para a estruturação de sua ciência psicológica[10].
Do mesmo modo, também os freudo-marxistas debatem entre si sobre os problemas metodológicos dessa assimilação, afinal são marxistas (e não seres acríticos que consideram a psicanálise uma verdade revelada) – a tal ponto que Martin Jay, importante historiador freudo-marxista, afirma ser uma “audácia dos primeiros teóricos que propuseram o casamento antinatural de Freud e Marx”[11]. Adorno radicaliza afirmando que “Na psicanálise, nada é verdadeiro, a não ser seus exageros”[12]. Christian Dunker chega, inclusive, a levantar os limites políticos da abordagem psicanalítica: “Admitir que a psicanálise tornou-se parte do problema que pretendia resolver, que sua inevitável culturalização exige um trabalho de crítica interna permanente, não indiferente às demandas conformistas inerentes à sua prática e à promessa terapêutica, foi também um sentido de muitas leituras entre as quais Adorno se inscreve como pioneiro. De Reich a Lacan, de Ferenczi ao casal Torock, reencontramos os mesmos pontos levantados pela crítica seminal de Adorno”[13]. [Bem deve ser suficiente para mostrar que o freudo-marxismo nunca negligenciou nem o MHD e nem os problemas da assimilação com a psicanálise].
Ou seja, o problema não é (ou não deveria ser) os adjetivos da psicanálise (se é ciência burguesa, pseudociência, idealismo, metafísica, etc., até porque Marx nunca colocou seus debates nesses termos – ainda que possa haver esse debate em outro contexto e grau de complexidade, como o próprio Adorno propõe, por exemplo) ou se é válido ou não para o marxismo assimilá-la, mas o debate é sobre as soluções dessas assimilações e os problemas que cada solução de equilíbrio precário levanta.
Outros dirão que a questão é que se produziu na URSS uma psicologia genuinamente marxista, puro sangue (com toda bizarrice que essa visão possui), e que por isso não há necessidade de assimilação de uma teoria “de fora” do marxismo. Bem, além da pobreza desse argumento, que recaí num dogmatismo tacanho, afinal já vimos textualmente tanto em Vigotsky quanto nos Freudo-Marxistas, que esses assimilaram referenciais da psicanálise, ainda que com proposições e objetivos bem distintos. Mas também devemos lembrar da história intelectual do marxismo, marcada por assimilações: Gramsci assimila Maquiavel numa época em que haviam teorias políticas marxistas, que ele também assimila, mas ainda assim ele optou pelo uso Maquiavel; Althusser assimila o estruturalismo, cujo grande nome era Saussure e Levi-Strauss, mesmo havendo Bahktin, um marxista; e assim vai ad infinitum.
Ou seja, o problema não é (ou não deveria ser) haver ou não uma leitura marxista prévia a alguma assimilação, mas o debate, esse sim válido e que ninguém interdita, pois é respeitoso ainda que duro, é da qualidade e limites das soluções que cada arranjo teórico que cada marxismo, em sua pluralidade de soluções, produz.
…
O marxismo, em toda sua história foi e ainda é plural. Cheio de divergências e disputas internas, é justamente esse caldeirão cheio de contradições que forma o que chamamos de marxismo, afinal “o uno é sempre um modo de ser múltuplo”[14]. As divergências existem e são muitas e devem ser no nível das soluções e problemas, além de metodológica (que há debates internos a cada corrente e externo de questionamento mútuo. Como vimos o próprio freudo-marxismo produz suas reflexões de seus problemas com o método, assim como qualquer corrente). Porém o debate não deveria ocorrer no nível da legitimação ou não de um marxismo verdadeiro ou falso por causa de assimilação alguma. Se não, me dou o direito de perguntar quem define a régua do que é ou não marxismo é sua corrente ou a corrente que você não concorda? Parafraseando Sartre, o falso marxista é sempre o outro.
É claro que enquanto marxistas, mesmo em nossas divergências, consideramos o MHD o melhor método entre as teorias sociais. Tanto considero que estou aqui debatendo e disputando esse campo heterogêneo chamado marxismo. Dizer que é o melhor não significa que há um bloco homogêneo do que é marxismo, tampouco se pode fazer qualquer coisa (e falamos disso anteriormente). O coração do método é o horizonte revolucionário – não do autor que está sendo assimilado – de quem produz teoricamente o marxismo (eu, você leitor e quem mais anda produzindo dentro do marxismo). Assimilamos de Paulo Freire até Maquiavel, da teologia da libertação até o romantismo alemão. E todos são, no movimento produtivo dessas assimilações, marxismo. Questionar um campo em si, negando sua existência ou querendo expulsar do marxismo (como um condomínio fechado da qual sou proprietário[15]) abre a brecha para que você também seja questionado e expulso – criando uma lógica de posse-teológica típica das disputas pelas leituras bíblicas entre neopentecostais –, pois não há um marxismo puro, nem algo (inclua o que você quiser aqui) verdadeiramente marxista. Há marxismo(s), essa unidade de contrários, como diz Hegel. Provando que até nosso desenvolvimento intelectual é dialético, numa espécie de metadialética de uma teoria dialética.
O objetivo desse texto não é encerrar um debate, mas abrir. Porém, assim como nos ensina o MHD, em outro nível, mais elevado. O marxismo, como sempre fala em suas entrevistas e palestras José Paulo Netto, é plural – há marxismos –, ainda que isso não signifique que se pode fazer o que quiser com as teorias. É preciso rigor ao método, mas rigor ao método não é engessamento de alternativas e por isso mesmo que o marxismo é plural.
A tentação do dogmatismo pode nos levar a um apaixonamento de nós mesmos, gerando uma dinâmica identitária (um marxismo identitário como chamo) de massa, como diz Freud em seu seminal Mal-estar na civilização[16]. Para combater isso, apenas o debate franco de ideias, livre na pluralidade, como o marxismo sempre foi. Basta lembrarmos das querelas clássicas entre Lenin X Rosa Luxemburgo, Althusser X Lukacs; Marxismo Ocidental X Marxismo Periférico, etc. Cabe a nós, em nosso tempo, qualificar o debate interno ao marxismo para tornar nossas querelas fundamentais, pois esses debates, francos, fortalecem o marxismo como um todo plural, e não meros berros de dogmáticos que querem fazer cumprir a palavra de nosso senhor Marx a todo custo. Também não imagino, longe de mim, com esse texto que acabem as críticas a psicanálise ou ao freudo-marxismo (ainda que gostaria que críticas rasteiras e deslegimadoras do poder crítico de vários marxistas findem – mas não guardo ilusões), apenas anseio que o debate seja baseado em ideias, argumentações, rigor e respeito, e não com base em clubismos ou sensos comum sobre qualquer vertente do marxismo que seja.
Dito isso e para finalizar, ainda que guarde muitas divergências com o marxista húngaro, aqui está uma boa lição de Lukács: “Suponhamos, pois, mesmo sem admitir, que a investigação contemporânea tenha provado a inexatidão prática de cada afirmação de Marx. Um marxista ‘ortodoxo’ sério poderia reconhecer incondicionalmente todos esses novos resultados, rejeitar todas as teses particulares de Marx, sem, no entanto, ser obrigado, por um único instante, a renunciar à sua ortodoxia marxista. O marxismo ortodoxo não significa, portanto, um reconhecimento sem crítica dos resultados da investigação de Marx, não significa uma ‘fé’ numa ou noutra tese, nem na exegese de um livro sagrado. Em matéria de marxismo, a ortodoxia se refere antes e exclusivamente ao método”[17].
[1] Vladimir Lenin. As três fontes e três partes constitutivas do marxismo. Março de 1913. Acesso: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://pcb.org.br/portal/docs/astresfontes.pdf
[2] Nancy Fraser, Rahel Jaeggi. Capitalismo em debate: uma conversa na teoria crítica. São Paulo: Boitempo, 2020. p. 28.
[3] https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/index.htm
[4] Sugiro, se ainda restar dúvidas se Espinosa era marxista ou não, o seu livro: Benedictus de Spinoza. Ética. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
[5] Ler sobre em: Robert Pippin. Você não pode chegar lá a partir de cá: problemas de transição na Fenomenologia do Espírito de Hegel. In: Fredrick C. Beiser (org.). Hegel. São Paulo: Ideias & Letras, 2014.
[6] Lev Vigotsky. Psicología del arte. Tradução de Victoriano Imbert. Barcelona: Barral, 1972. p. 100.
[7] Para os pontos afirmados sobre sobre Freud, sugiro a leitura de: Garcia-Roza. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro, Zahar, 1983. Também: Renato Mezan. A trama dos conceitos. São Paulo, Perspectiva, 1982. Além dos clássicos: Sigmund Freud. A interpretação dos sonhos. Vol. IV. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud edição standard brasileira. Rio de Janeito: Imago, 1996. E: Sigmund Freud. Inibições, sintomas e angústia. Vol. XX. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud edição standard brasileira. Rio de Janeito: Imago, 1996.
[8] Alguns debatatedores acusam a psicanálise de ser idealista por conta de seu conceito de inconsciente, que seria pouco científico, as estudiosas da obra de Vigotsky, Elis Bertozzi Aita e Silvana Calvo Tuleski, afirmam, sobre a ciência psicológica de Vigotsky: “a ciência não estuda apenas o que é imediatamente acessível à consciência ou à observação, mas também estuda fenômenos de forma indireta, por meio de indícios e vestígios”. In: O conceito de inconsciente em Vigotsky: primeiras aproximações. Fractal: Revista de Psicologia, v. 33, n. 2, p. 62-71, maio-ago. 2021. doi: https://doi.org/10.22409/1984-0292/v33i2/5863
[9] Chamarei de Freudo-marxistas o conjunto de autores marxistas reunidos pela assimilação de marxismo e psicanálise, inclusive para além do próprio Freud – considerando autores como Winnicott, Melanie Klein, Lacan e outros.
[10] Lev Vigostsky. A psique, a consciência e o inconsciente. In: Lev Vigotsky. Teoria e método em psicologia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 137-159.
[11] Martin Jay. A imaginação dialética. História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais, 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. p. 133.
[12] Theodor Adorno. Minima Moralia. São Paulo: Ática, 1993. p. 41.
[13] Christian Dunker. Apresentação à edição brasileira. In: Theodor Adorno. Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015. p. 23.
[14] Rodrigo Nunes. Prefácio – Por onde começar? In: Edemilson Paraná, Gabriel Tupinambá. Arquitetura de arestas: as esquerdas em tempos de periferização do mundo. São Paulo: Autonomia Literária, 2022. p. 240.
[15] Aqui é interessante observar dois fenômenos: o primeiro se refere ao que Christian Dunker chama de “lógica de condomínio” em seu livro “Mal-estar, sofrimento e sintoma” (São Paulo: Boitempo: 2015) e o segundo o que chamo de cosplay de bolchevique, que Gabriel Tupinambá e Edemilson Paraná, em “Arquitetura de Arestas” descreveram melhor e sem minha ironia como um “uso identificatório do engajamento político” (São Paulo: Autonomia Literária, 2022) – sendo um sintoma da fragmentação política que vivemos, inclusive sintoma do identitarismo que o campo marxista costuma denunciar.
[16] Sigmund Freud. O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936). São Paulo Companhia das letras, 2010.
[17] Georg Lukács. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 64.